01 dezembro 2012

dear best friend,


Acho que seria evasivo demais da minha parte ainda te chamar de melhor amigo. Mesmo depois de todo esse tempo, você continua sendo a minha saudade mais doída. Eu ainda sou capaz de lembrar das nossas conversas sem sentido algum, onde ríamos até que o corpo implorasse por um pouco mais de fôlego. E o seu abraço quente e seguro ainda faz falta nas noites turbulentas. É triste viver e no fim do dia não ter pra quem contar tanta história. É triste rir sem achar graça e ver o mundo feio e bobo como ele sempre foi sem você por perto. Era você que, com todo o cuidado e toda a paciência do mundo, juntava cada caco meu e me reconstituía toda manhã. Mesmo sabendo que eu não consigo ser inteira e plena em nada, você fazia questão de me completar em tudo. Éramos mais do que grandes amigos: éramos confidentes, parceiros, colegas, irmãos - há quem complete a lista com “apaixonados”. Talvez a gente fosse mesmo louco um pelo outro, mas as coisas mudaram. Você mudou, eu mudei, nossos caminhos mudaram e a vida mudou junto. Seguimos outros rumos e hoje temos outras prioridades, outras músicas preferidas, outros amigos com quem sair na sexta a noite, outros lugares para frequentar, outros personagens nos papéis da história de cada um. Não somos mais os mesmos de alguns anos atrás, longe disso! Sua barba cresceu e o meu corte de cabelo mudou. Você está mais forte e másculo, eu não tenho mais espinhas. Vai ver a gente nem se reconhece mais. Olhe só para nós, olhe o que nos tornamos, olhe o que a vida nos fez: hoje não passamos de meros desconhecidos. Tínhamos planos de um futuro onde a minha filha te chamaria de padrinho e eu seria a madrinha do seu garoto. Eu ainda me pergunto: onde foi que nós nos perdemos um do outro? Em qual esquina será que o nosso laço se desfez? Talvez tenha sido o tempo, penso eu. Quanta ironia, não? Logo esse tal de tempo que a gente dizia ser eterno, acabou por nos separar. Olhe pra si agora: quem é você? No que foi que você se tornou? Eu não sei onde está aquele que um dia eu chamei de melhor amigo. Onde foi parar aquele irmão - mesmo sem ser de sangue - atencioso, preocupado e presente de todos os dias? Onde foi parar o garoto de coração puro e da voz serena que protagonizava os meus sonhos? Eu também gostaria de saber. Queria ainda ter a liberdade de te ligar sem compromisso e passar a tarde ouvindo você falar sobre a sua vida. Queria saber se você ainda escuta as mesmas músicas aos domingos e se o seu brigadeiro ainda continua sendo melhor do. Eu não te reconheço mais e acredito que você também não. Olhe pra mim agora: percebe o quanto mudei? Repare nas minhas unhas, no meu cabelo, no tom da minha pele. Escute mais uma vez a minha risada e perceba que ela não é mais a mesma. Olhe as gírias que eu uso ao falar e o modo do meu andar. Eu não sou mais aquela garota boba e ingênua formada por cacos e não preciso que você os juste outra vez. Talvez você nem tenha se dado conta disso. Afinal, nem eu sou capaz de acreditar que mudei daquela menininha frágil pra essa mulher decidida que sou hoje. Aconteceram muitas coisas e pessoas ao longo do caminho que trilhei sem a sua ajuda, assim como eu sei que aconteceram muitas outras ao longo do seu. Mas olhar pro lado e não te ver mais lá ainda me causa leves tonturas. Ver você e a sua vida andando pra frente sem nenhuma mágoa restante em ver eu e a minha vida um pouco mais atrás, dói. Olhar pra você e pensar “era meu melhor amigo”, aperta o coração. Dá-me uma nostalgia absurda de quando nos imagino há um tempo atrás. De quem éramos, do que tínhamos, do que sentíamos. Eu só queria te dizer que eu sinto a sua falta. E que a sua falta não dá pra suprir ou substituir como eu fiz com todas as outras coisas na minha vida. Eu só queria que você soubesse que aquela promessa que eu te fiz ainda está de pé: aquela onde eu disse que ninguém jamais substituiria você, eu continuo cumprindo. Em todo caso, se der pra reconstruir a amizade, se der pro orgulho ser colocado de lado e o resto que sobrou do sentimento ser cultivado, liga pra mim.

Ao meu grande amigo,
Calucka