26 abril 2012

Metamorfose

Ela olhou para os lados com aquela expressão que só ela conseguia fazer e encaixou novamente seus fones de ouvidos sem dar importância a nada. Alguns interpretavam aquela atitude como nervosismo, outros como mal humor e alguns brincavam dizendo que era tpm mas, dentro dela estava acontecendo uma guerra. Só ela sabia de como aquela vontade de gritar a perturbava, e aquele nó fazia reflexo no corpo todo e a dor a consumia. O seu som fazia todos esses efeitos diminuírem, ela viajava com suas musicas e se esquecia de todos em sua volta, e isso dava tranqüilidade a ela. Já tinha algum tempo que ela havia se esgotado das pessoas, de suas mentiras e suas falsidades porem, algo ainda fazia ela não desistir. Ela se esgotou e desistiu, cansou de tudo e todos. Sem saber pra onde correr se refugiou em si mesma. A guerra estava cravada. Todos seus problemas, tormentos, magoas e decepções se acumularam e explodiu como uma bomba dentro de si. O estrago foi tão grande que abalou todas suas estruturas ate seu ponto mais forte. Ela sabia que daquela vez, ela realmente estava no fundo do poço e o pior, não havia ninguém para socorrer. O desespero tomou conta do seu ser, sua cabeça doeu por dias e sua expressão não mudou e sua voz se quer saiu. Ela estava abalada, exausta de resolver sempre as coisas, de ser forte o tempo todo. A ultima briga, foi o ápice para acabar com tudo. Ela foi chamada de árvore seca que não gera frutos. Ela que sempre mantinha o sorriso no rosto e tentava confortar a todos esquecendo muitas vezes dela mesmo, seria ela então uma arvore seca? Ela não sabia por onde se organizar, os dias corriam e só traziam mais decepções. A musica a embalou por semanas enquanto seus pensamentos iam se organizando e algo ia dizendo a ela "Pô, acorda menina. Dá a volta por cima. Seja forte. Seja você'' citação de (Caio F. de Abreu). Os dias passaram, ela tirou o fone de ouvido e teve um choque. Imediatamente seus pés sentiram o chão firme novamente e ela respirou fundo sentindo aquela brisa tomar conta do seu corpo que já havia cicatrizado e ela teve certeza que havia mudado. Ela voltou a caminhar mais segura de si mesmo. Os outros agora a chamavam de anti-social, mas ela sabia que não era isolamento, era preguiça de se socializar com pessoas imbecis. A dor e sua experiência a transformou. Ela tava com novos pensamentos, novos olhares e novas expectativas. Ela zerou tudo em sua vida e começou novamente. Sim, ela zerou suas amizades, seus colegas, seus conhecidos, seus apoios e suas prioridades. Dai pra frente ela sabia que só ocuparia algum lugar em sua vida quem merecesse. Mesmo estando sem forças para lutar contra os filhos da puta que queriam a ver mal, ela continuo sorrindo de cabeça erguida. Ela estava confiando em si mesma de novo, se permitindo, porque ela sabia que podia muito, que merecia muito. Uma coisa ela aprendeu com tudo isso: A vida te muda, mesmo você não querendo. Ela te obriga a crescer, te obriga a mudar. Ela começou a ser melhor com ela mesmo, menos dura. Ela estava se recompondo aos poucos ainda, mas, havia dado o primeiro passo que era COMEÇAR! E dessa vez ela não conseguia se segurar e não gritar: "Que venham novos sorrisos. As novas histórias e novas pessoas!"

Por Calucka,

22 abril 2012

INVENTÁRIO DO IR-REMEDIÁVEL


"Não queria, desde o começo eu não quis. Desde que senti que ia cair e me quebrar inteiro na queda para depois restar incompleto, destruído talvez, as mãos desertas, o corpo lasso. Fugi. Eu não buscaria porque conhecia a queda, porque já caíra muitas vezes, e em cada vez restara mais morto, mais indefinido - e seria preciso reestruturar verdades, seria preciso ir construindo tudo aos poucos, eu temia que meus instrumentos se revelassem precários, e que nada eu pudesse fazer além de ceder. Mas no meio da fuga, você aconteceu. Foi você, não eu, quem buscou. Mas o dilaceramento foi só meu, como só meu foi o desespero. Que espécie de coisa o cigarro queimou, além dos cabelos? Sei que foi mais fundo, mais dentro, que nessa ignorada dimensão rompeu alguma coisa que estava em marcha. Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. A noite ultrapassou a si mesma, encontrou a madrugada, se desfez em manhã, em dia claro, em tarde verde, em anoitecer e em noite outra vez. Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto."

Caio Fernando de Abreu.